segunda-feira, 30 de maio de 2011

Intencionalidade na Literatrura

É outono; o friozinho chegou antes do inverno. De alguma forma noto que o clima interfere em nosso estado de ânimo. Há uma predisposição para o recolhimento, a interiorização, ao leite quente e à leitura.
Ler é muito bom em qualquer estação, mas no inverno...Hum! É bom demais.
Comecei ontem a ler um livro de Platão "Sobre a inspiração poética (Íon) & Sobre a mentira (Hípias Menor)."
Em outra postagem falarei deste livro ( como leitora comum, claro).
Hoje quero falar sobre uma matéria que li em um jornal, onde Abel Barros Batista, professor em uma universidade de Lisboa, aborda a questão da intencionalidade de um texto e a tendência comum de atribuir uma intenção do próprio autor ao escrever um texto. Nem sempre a intenção do texto - que pretende transmitir algo, produzir efeito é, necessariamente, a intenção do autor. Segundo Abel, "nenhum estudo consegue erradicar esse desejo (da intenção do autor, do desejo do autor). A literatura é inseparável de duas coisas que são antagônicas: um conhecimento teórico e altamente sofisticado, onde é irrecusável que a ideia da intenção do autor não pode comandar a leitura de um texto, logo, a intenção está inacessível para sempre; e, por outro lado, um conhecimento não teórico, um conhecimento vulgar, que é igualmente persistente, talvez até mais persistente que o conhecimento teórico, e onde a expressões como: " o que isto quer dizer?"
"o que o autor quer dizer?" , " o que o autor quis dizer foi..." - e que continuam a ser formas de nos relacionarmos com a literatura e, que no fundo, de presumirmos que há um deliberação que nos destina àqueles textos que estamos lendo e que representamos uma figura do autor."
Ainda segundo o professor, a mídia que cerca a literatura precisa do autor. A exposição deste na televisão, entrevistas torna presente uma figura que na época clássica era uma figura ausente. Esta exposição do autor (de carne e osso) dá mais força a esse conhecimento vulgar da literatura, diferentemente dos autores clássicos, que poucas pessoas conheciam a figura, mas presumiam, pelo texto, ser um Balzac, Flaubert, etc. Esta "ausência" e distanciamento seriam impensáveis nos dias de hoje.
Depois que li o texto fiquei horas imaginando os grandes escritores clássicos autografando livros, participando de programas de televisão, os fãs os encontrando em aeroportos, shopping center. Muito estranho mesmo. Calma, cada coisa a seu tempo... assim é a vida.
J.S