quinta-feira, 30 de junho de 2011

Tchaikovsk - 9 - Fim



"Nenhum artista torna-se popular se não consegue comunicar ao espectador a natureza e as experiências do amor humano, bem como a dor e o prazer de viver. (.....) Parece ter sido a utilização do amor e a dor de amar que permitiram a Tchaikovsky chegar tão perto da sensibilidade das pessoas não habituadas a ouvir música clássica. (....) A Beleza simples e comunicativa, bem como o forte tom emocional e romântico das melodias de Tchaikovsky permitiram a adaptação de alguns temas para canções populares". Na verdade, foi o mais popular dos compositores clássicos. Difundiu suas músicas, viajando por toda a Europa e Estados Unidos, mas nunca se desligou de sua tão amada pátria.
Há mais de 400 fimes que aproveitaram composições de Tchaikovsky para trilhas sonoras. Recentemente, o filme "O Concerto", lançado no Brasil em 12/2010, tem como uma de suas canções o "Violin Concerto en D Major op. 35".
È extensa a obra de Tchaikovsky. As principais composições são - Balés: O Lago dos Cisnes; A Bela Adormecida; O Quebra Nozes. Óperas: Eugene Onegin; A Dama de Orleans; Mazzepa; Pikovaya; Iolanthe. Sinfonias: Nº 1 Sonho de um dia de inverno; Nº 2 O pequeno russo; Nº3 Polonesa; Nº 4 em fá menor, Sinfonia Manfredo; 5ª Sinfonia em mi menor e a 6ª sinfonia - "Patética". Compôs 4 suites; 3 Concertos: 2 para piano e 1 para violino, e outros tantos trabalhos para orquestra, como Romeu e Julieta; Marcha Eslava; Francesca de Rimini; Abertura (1812). Compôs para coral, cantos, música de câmara e piano solo.
Assim foi Tchaikovsky, " personagem" real de uma vida.

F i m.

Tchaikovsky - 8

Tchaikovsky compôs a Sexta Sinfonia - a "Patética"- em 1893, (que chegou a estrear). Foi a última composição sua, pois morreu de cólera, após ter bebido água não fervida - nunca se soube se por descuido ou com intenção de se matar. O título "Patética" foi dado por seu irmão Modest, pois Tchaikovsky, embora" tivesse renovado sua batalha contra o destino, sua luta se esgotou sobre a partitura e não conseguia encontrar um título adequado."
A respeito ainda desta última sinfonia, Tchaikovsky escreveu ao sobrinho Bob Davidov: "Queria poder te descrever o prazer que devo ao meu novo trabalho. Recordarás que no outono destrui a maior parte de uma sinfonia já completa e já instrumentada. Eu fiz bem, porque ela valia muito pouco: um jogo vazio de notas sem autêntica inspiração. Durante a viagem a Paris me veio a ideia de uma nova sinfonia sobre um programa tão bem selado que ninguém seria capaz de descobri-lo, ainda que quebrasse a cabeça. Esse programa reflete os meus sentimentos mais íntimos. Em viagem, enquanto mentalmente compunha o esboço, rompi, mais uma vez em prantos, como se fosse presa do desespero. Ao voltar, me pus a escrever e trabalhei com tanta intensidade que em menos de quatro dias terminei o primeiro movimento, enquanto os outros já estavam nitidamente delineados em minha cabeça. A forma desta sinfonia é, por muitos modos, insólita: o finale não será um fragoroso Allegro, mas um lento Adágio. Não podes imaginar como estou feliz, em constatar que ainda sou capaz de criar."

Tchaikovsky - 7

O período de ligação de Tchaikovsky e sua "amada" foi o mais rico em produção e qualidade musical. O catálogo de suas obras se avolumava. Suas músicas eram fortemente comunicativas. Iniciou uma bem sucedida carreira de regente, embora fosse difícil para ele superar todo o seu horror ao público; a ansiedade e a angústia que eram os ensaios com a orquestra.
Escreveu "A Bela Adormecida" em apenas 44 dias, entre crises de exaltação e de pranto, mas escreveu ao irmão: "A Dama de Espadas é minha obra-prima. Algumas passagens me enchem tanto de medo, terror e emoção que é impossível que os espectadores não tenham ao menos qualquer uma dessas sensações."
Atravessava dias de felicidade, enquanto prepara o lançamento da obra-prima. Mais uma vez o destino o golpeou. Em 04 de outubro de 1890 recebe um bilhete de sua "amada" comunicando-o que perdera toda a sua fortuna, portanto a interrupção da pensão e mais: o fim de qualquer contato futuro entre eles. Terminou dizendo: "Não me esqueças e penses em mim algumas vezes".
Tchaikovsky respondeu imediatamente:
"Essas últimas palavras doeram-me demais, se bem que me dizes que não as escrevestes seriamente. Será possível que não me aches capaz de recordar-te, a não ser quando aproveitando de tua generosidade? Posso dizer-te, sem exagero, que me tens salvado, que teria perdido a razão se não tivesses vindo em meu socorro com tua amizade e tua simpatia. O dinheiro que me tens dado é, ainda, dinheiro de salvação. Ele reanimou minhas débeis forças e me restituiu a vantade de continuar a carreira de músico. Não, minha cara, esteja certa que te recordarei sempre e te bendirei até o fim dos meus dias. Hoje, quando não podes mais dividir a tua fortuna comigo, posso te manifestar, ainda mais, toda a extensão de minha gratidão. Talvez não te dês conta do quanto fizeste por mim. Entretanto, não poderias escrever que, agora, sendo pobre, pensaria em ti 'algumas vezes'. Não te esqueci nem ao menos um segundo, e não te esquecerei nunca, porque cada um dos meus pensamentos é teu também. Beijo-te as mão, com toda minha ternura, suplicando-te que creias, agora e sempre, que ninguém no mundo te ama mais que eu."
Esta carta jamais recebeu qualquer resposta, embora Tchaikovsky tenha tentado, por diversas vezes, reatar os contatos.
Um tempo depois Tchaicovsky descobriu que a fortuna de Nadejda permanecia praticamente intacta; soube também que ela estava doente. Ninguém nunca soube o que motivou a "amada" a romper subtamente o relacionamento. Havia descoberto sua homossexualidade? Pouco provável, pois não era segredo para ninguém. Seria então, as insinuações maldosas sobre uma amizade ligada demais ao dinheiro? Ou simplesmente ela teria cansado de ser generosa?


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Tchaikovsky - 6

Tchaikovsky e Nadejda tiveram um amor ideal, ou idealizado, melhor dizendo. Jamais tiveram um contato físico, condição estabelecida e aceita por ambos.
Nadejda era uma viuva rica, com 12 filhos; uma mulher triste e desiludida. Casara sem amor.
No início, a correspondência entre eles seria para que Tchaikovsky enviasse a ela a transcrição para violino e piano de algumas obras orquestrais, e pagaria por isto. No entanto, a relação tornou-se rapidamente em uma amizade e depois em um grande amor.
Em setembro de 1879 Nadejda escreve a Tchaikovsk: " Duvido que possas compreender até que ponto eu seja ciumenta, apesar da falta de contato pessoal entre nós. Sabias que tenho ciume da maneira mais imperdoável, que é a mulher que tem ciumes do homem que ama? Sabias que, quando te desposaste, tudo foi tremendamente difícil para mim, como se uma parte do meu coração fosse despedaçada? O simples pensamento de que estavas perto daquela mulher me era amargo e insuportável. Percebes minha perversidade? Fiquei feliz com tua infelicidade, ainda que me envergonhasse disso. Não creio ter revelado, de modo algum, meus sentimentos, mas não conseguia superá-los (....). Odiava aquela mulher por não tê-lo feito feliz, mas eu a teria odiado cem vezes mais se tivesse achado felicidade ao teu lado. Pensava que tinha roubado o que era somente meu, aquilo que é meu por direito, pois eu te amo acima de tudo , e te coloco acima de qualquer outra coisa no mundo. Se esta revelação te perturba, esqueças a confissão involuntária. No entanto, eu a fiz. A sinfonia (a quarta, escrita nos dias da grande crise e dedicada a ela) foi a causa de tudo. Entretanto, creio que é melhor saberes que não sou aquela idealista que imaginas. E, depois, isso não pode alterar de nenhum modo nosso contato. Não desejo nenhuma mudança e gostaria de me assegurar que nada mudaria até o fim da minha vida...mas não tenho o direito de dizê-lo."
Por doze anos Nadejda sustentou o músico com uma pensão e ele lhe era muito agradecido por isso - seu " anjo protetor" também durante a tempestuosa experiência conjugal.
Nadejda arquiteta o casamento entre um filho seu e uma sobrinha do amado, como forma de perpetuar e imortalizar uma ligação espiritual entre ela e Tchaikovsky.

Tchaikovsky - 5




Nos meses seguintes, se casa com Antonina Miliukova, uma aluna do conservatório, que lhe escreve cartas apaixonadas e dizia que se não fosse correspondida nesse amor, poria fim à vida.
Casaram-se, mas Tchaikovsky a advertiu que seria um casamento sem amor e sem relações sexuais.
Neste mesmo período começou a manter correspondência com Nadejda Von Meck, que durou 13 anos, com quem trocaria mais de 1.100 cartas.
Desesperado com o casamento, viaja imediatamente para a casa de sua irmã, ficando mais de um mês longe de Antonina. Quando retornou, percebendo a loucura que foi este casamento, entrou no rio Moscou, de águas geladas com a ideia de contrair pneumonia e morrer. O banho gelado não teve maiores consequências, mas o estado de loucura era iminente.
O psiquiatra que o atendeu prescreveu-lhe uma mudança radical de vida e de ambiente. O divórcio era indispensável. Antonina também começou a manifestar problemas mentais e ora não se importava com o divórcio, ora se desesperava e perseguia Tchailovsky através de cartas. Esta situação corroia ainda mais os frágeis nervos do músico. De certa forma, se sentia culpado pelo estado de Antonina. Tres anos após a morte de Tchaikovsky, Antonina foi internada em um manicômio.

Tchaikovsky - 4

Os estados depressivos continuaram. Tchaikovsky viajou para a França. Lá estavam seus compositores favoritos, boa mesa, bons vinhos e liberdade. Com o passar do tempo nada mais lhe alegra. Cita Dante, em uma carta ao irmão: "Nenhuma dor maior que lembrar os tempos felizes da miséria. A melancolia que me corroi é terrível... Há algo de insanidade nisso. Veja que ontem chorei dez vezes."
Estava vivendo a sua mais aguda crise. Sem poder se livrar da pressão social de seu meio, resolve se casar e envia uma carta ao irmão, Modest, também homossexual: "Pensei muito em mim, em você e em nosso futuro. Como resultado de longa elucubração, de hoje em diante me prepararei para realizar um casamento, com quem quer que esteja disponível. Creio que nossas inclinações sejam o maior e mais insuperável obstáculo à nossa delicidade, e que devemos lutar com todas as nossas forças contra a nossa natureza (....). Você disse que na nossa idade é difícil superar as paixões. Eu digo que na sua idade é mais difícil dirigir o gosto em outra direção. Neste aspecto, sua inclinação religiosa pode oferecer-lhe, penso eu, um apoio seguro. Quanto a mim, farei o possível para me casar ainda este ano e, se não tiver coragem de fazê-lo, me libertarei, de qualquer forma, de meus hábitos, e o farei de forma a não ser mais visto na companhia de ... (lacuna). Preocupo-me somente em erradicar de mim esta perniciosa paixão."

Tchaikovsky - 3

A homossexualidade sempre foi um peso e uma preocupação na vida de Tchaikovsky. Com o objetivo de tentar salvar sua reputação, envolve amorosamente com mulheres, mas sua vida afetiva se tornava cada vez mais frustrante.
Uma cunhada de sua irmã apaixonou-se por ele, mas não foi correspondida. Tchaikovsky se desculpou com esta sua irmã, escrevendo-lhe uma carta: "Esteja certa de que, mais cedo ou mais tarde, terá que estender um pouco de seus cuidados maternos ao seu irmão, cada vez mais velho e cansado. Talvez você pense que uma relação espiritual, como a que vivi com sua cunhada, conduz um homem ao matrimônio. Não, minha cara (....): sou demasiado preguiçoso para uma vida conjugal, demasiado preguiçoso para manter-me à frente de uma família, demasiado preguiçoso para assumir as responsabilidades de mulher e filhos. Concluindo: o casamento para mim é impensável".
Pouco tempo depois, apaixonou-se por uma cantora francesa, Désirée Artôt e escreveu ao irmão: "Se você soubesse que cantora e que atriz é a Artôt! Nenhuma artista jamais me fez sentir tal fascínio. Como não ser arrebatado pelos seus gestos, pela graça de seus movimentos e de suas atitudes!"
Um mês depois escreve: "Todo o meu tempo é dedicado a uma só pessoa, aquela que você sabe que eu amo muito, muitíssimo.
É desencorajado pelos amigos sobre o projeto de casamento e escreve: "De um lado, o coração me empurra com toda a força em direção de minha amada, e neste momento parece impossível passar toda a minha vida sem ela, mas, de outro, a fria razão me impele a considerar seriamente os problemas levantados por meus amigos."
Désirée se casou menos de um mês depois com um barítono.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Tchaikovsky - 2

No início do ano de 1866, Tchaikovsky deixa São Petersburgo e vai para Moscou. Conhece Nikolai, um jovem boa vida, que adorava as mulheres e os jogos. Estabelece entre eles um afeto fraternal. Nikolai passa a ser seu amigo e protetor, oferecendo-lhe moradia, roupas da moda e o apresenta à sociedade. Tchaikovsky vivia, até então, com apenas 50 rublos mensais. Começou a compor a sua primeira sinfonia. Muito trabalhou para se afirmar como músico. Nesta época escreveu uma carta desesperada a seu irmão Anatoli. Estava passando por mais uma das tantas crises depressivas que o acompanharam por toda a vida. O médico o proibiu de compor, pois ele estava " a um passo da demência". Isto era impossível!
Carta de Tchaikovsky a Anatoli: "Tenho os nervos totalmente em pedaços. Motivos: 1) a sinfonia não está indo bem; 2) Rubinstein (....), tendo notado que basta um nada para me fazer sobressaltar, me persegue com crítica de toda espécie; 3) a certeza de morrer logo, antes de terminar minha sinfonia (.....) Ontem parei de beber vodca, vinho e chá forte. Odeio a humanidade e gostaria de retirar-me para um deserto".

Música - Tchaikovsky - 1



Tchaikovsky (1840 - 1893) era o segundo, dos seis filhos de Ilya Petrovitch com Alexandra Andreievna. Sempre foi uma criança frágil, sensível, solitária e afastada das brincadeiras de crianças de sua idade. Desde muito cedo se interessou pela música, embora fosse desejo da família que ele se tornasse advogado.
Muito ligado à mãe, sentiu profundamente sua morte, quando tinha 14 anos. Viveu com sentimento de abandono pelo resto de sua vida. Procurou aplacar a depressão e o isolamento, frequentando a vida boêmia: bebida, salão de festas, restaurantes da moda, sexo, etc.
Descobriu, no entanto, que a música era a única coisa que lhe trazia alento à dor de viver.
Por se descobrir homossexual - forma de amor condenada pela sociedade e por ele mesmo - buscou na música a sublimação. Dedicou-se de corpo e alma a ela. Começou a compor movido por intensa paixão.
Em 1865, seu pai se casa novamente. Passou a apenas visitar sua família, especialmente sua irmã Alexandra, em quem ele buscava serenidade de espírito para criar.
Ele dizia: "A perfeita serenidade é necessária ao artista no momento de criar. Nesse sentido, a criação artística é sempre objetiva, mesmo na música. Há quem ache que o artista, ao sentir uma emoção, pode, naquele mesmo momento, traduzí-la e interpretá-la com a sua arte, mas eles se enganam redondamente. Os sentimentos tristes e as emoções alegres são sempre expressos retrospectivamente, isto é, eu posso me sentir triste e compor uma obra alegre, e vice- versa. Em suma, nós temos duas vidas: uma de homem e uma de artista, e elas se encontram algumas vezes".

terça-feira, 21 de junho de 2011

"Adoooooro" informática

"Eu nasci há dez mil anos atrás..." , portanto, bem distante da era da informática. Devo confessar: não sei nada, nada de computação. A começar pela linguagem: no e-mail "próximo" é a página anterior; "anterior", é a última página. Para desligá-lo devo clicar em "Iniciar". Sai fora...
Minha professora de informática é a Paulinha, que cresceu sob as bençãos da internet. Na verdade, faço curso à distância, pois moramos em cidades diferentes, mas nos encontramos algumas vezes, para aulas presenciais.
Um sábado destes qualquer, sozinha e Deus, resolvi " ingressar" no "TWITTER". Arrependimento total. Deu certo o ingresso, só que não entendia nada de " twittar" e me dei mal. Pensei, então, em cancelar aquela coisa. Mas era muito mais difícil e complicado. Larguei prá lá. Comecei a receber mensagens do Twitter, em inglês, idioma que não domino - não domino nem o português... Minha angústia permaneceu. Enfim, "Traduzindo" por alto, me pareceu que perguntavam se eu estava tendo algum problema, e se precisava de ajuda. Ajuda? Precisava é de um professor mesmo! Urgente. No último dia 13, recebi uma mensagem, em inglês, claro, e parecia que o verbo estava no passado. Então pensei: será que cancelaram minha conta no twitter? Será que vou ficar livre disto?
Este martírio continuou até que pude me encontrar com Paulinha. Agora está tudo bem. Ela arrumou tudo prá mim. Já comecei a twitar. O problema é escrever em apenas 140 caracteres. Não sei se vou dar conta, pois gosto de escrever muito. A única vantagem é que vou errar menos.
E assim tem sido a minha vida: blog prá lá, twitter prá cá... um ócio total.
Esqueci de dizer que a Paulinha também fez este blog para mim, fez o msn e o e-mail. E quando passo algum aperto, ela, à distância, resolve para mim. Um primo meu dizia se referindo a mim: "menina de futuro taí, tirou o diploma do grupo com nota 5". Se fosse hoje e dependesse de informática para passar de ano, ficaria no ensino fundamental o resto dos meus dias... a nota 5 já era lucro demais.
Pretendo falar sobre coisinhas mais sérias nas próximas postagens.
Bjos, me leem!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

"Nada melhor do que não fazer nada."

Há uma música que a Rita Lee canta que diz "nada melhor do que não fazer nada". E é verdade. Sempre achei isto. Bem, não sou totalmente a favor do não fazer nada, mas do ócio criativo.

Lembro-me que aos 9 ou 10 anos de idade a professora nos apresentou a fábula "A Cigarra e a Formiga"de Esopo e que La Fontaine popularizou. Todo mundo conhece. Fala da necessidade de trabalhar e trabalhar... Em linhas gerais, a historinha é mais ou menos assim: enquanto a formiga trabalhava e garantia seu sustento, prevendo um inverno rigoroso que viria, a cigarra cantava e cantava, sem se preocupar com o amanhã. O inverno chegou e a cigarra não tinha o que comer. Foi bater à porta da casa da formiga - do formigueiro- melhor dizendo, para lhe pedir comida. A formiga, (com o pescoço enroladinho no seu cachicol, com certeza) perguntou: "o que você fazia no verão"? "eu cantava", respondeu a cigarra. "Pois agora, dance", foi a resposta que obteve.

Depois de lido o texto em sala de aula, a professora simulou um juri. A formiga ou a cigarra deveria ser absolvida - e a outra, condenada, claro.

Fui escolhida para defender a cigarra e uma coleguinha defenderia a formiga.

Foi uma discussão e tanto! A maioria dos alunos defendia a formiga. Minha situação não estava nada boa. Senti que para a defesa teria que apelar para o emocional. E comecei falando da negação de ajuda a alguem. Não era isto que aprendíamos na escola. As professoras sempre nos ensinavam a emprestar uma borracha, um lápis ao colega. Aprendíamos também a ser menos egoístas - não nos custava nada dividir a merenda com um coleguinha que não tinha. E mais: cada pessoa tinha um dom; uns de cantar; outros de só trabalhar, sem sentir o que a vida tem de bonito. Nós também somos assim! E cada um faz a sua escolha. Apelei até para Deus. Depois de uma longa e calorosa argumentação de ambas as partes, finalizei: Não podemos ir contra os designos de Deus. Nem sabia direito o que significava esta palavra - designos, mas deu certo. A cigarra foi absolvida! Eu estava exausta! E descobri desde então que "emprego só como última alternativa", como alguém já disse... hoje fico pensando...será que esta fábula privilegia o trabalho, em detrimento da arte? Vai saber a intenção... a ideologia...

sábado, 11 de junho de 2011

Apenas frases

- A intuição é o lazer da criatividade.

- Só há uma maneira de agradar as mulheres: não lhe peguntar a idade.

- Você pode escolher entre um espião e um batalhão.

- A saudade é a moldura da lembrança.

- Amizade é como criança: não pede para nascer.

- Só há uma coisa mais rápida que o pensamento: a evolução da tecnologia.

- Os peixes, legumes e frutas parecem bem mais frescos nos anúncios que nos supermercados.

- Pescar só é divertimento para o pescador.

- As ideias veem e vão num piscar de olhos.

- O marrom é o vermelho que não deu certo.

- Não gosto das ciências exatas; elas não permitem questionamentos.

- Ter ou não ter, eis a questão.

- Pensar é 365 vezes mais difícil que falar.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Van Gogh - 5

Van Gogh era um homem amargurado e solitário, mas de uma sensibilidade sem par. Em uma das cartas a seu irmão, escreveu:

"Estou bem estes dias, a não ser um certo fundo de vaga tristeza difícil de definir - mas enfim -, recuperei mais forças fisicamente do que perdi, e estou trabalhando.

Tenho justamente no cavalete um pomar de pessegueiros à beira de um caminho com os Alpines ao fundo.

Parece que saiu um belo artigo sobre Monet no Fígaro; Roulin leu e ficou impressionado, pelo que me dizia...

Felizmente o tempo está bonito e o sol glorioso e as pessoas daqui rapidamente esquecem por um instante as suas preocupações e então irradiam alegria e ilusões."

e prossegue:

"Roulin, mesmo não tendo idade suficiente para ser para mim como um pai, tem para mim contudo severidades silenciosas e ternuras iguais às de um velho querreiro para com um jovem.

Sempre - mas sem nenhuma palavra - um não sei que que parece significar: não sabemos o que nos acontecerá amanhã, mas seja como for, pense em mim. E isto faz bem quando vem de um homem que não é amargo, nem triste, nem perfeito, nem feliz e nem sempre irrepreensivelmente justo. Mas tão bondoso e tão cordato e tão comovido e tão ingênuo. Escute, eu não tenho o direito de me queixar de quem quer que seja em Arles, quando penso em certas pessoas que aqui vi e que jamais poderei esquecer."

Em outra carta Van Gogh escreve:

"..............Provisoriamente desejo ficar internado tanto para a minha própria tranquilidade quanto para a dos outros.

O que me consola um pouco é que estou começando a considear a loucura como uma doença qualquer, e aceito a coisa como ela é, enquanto que, durante as crises, parecia-me que tudo o que eu imaginava era real."

E continua:

"Recomerçar esta vida de pintor que eu tive até hoje, logo isolado, no ateliê, e sem outro recurso para me distrair a não ser ir a um café ou a um restaurante sob a crítica de todos os vizinhos, etc., eu não aguento mais."

Van Gogh se muda e comunica a seu irmão Théo:

".....a pensão deve ser de uns oitenta fancos, e eu farei um pouco de pintura e desenho sem por tanto furor quanto no ano passado. Não se magoe com tudo isto. Estes dias, mudando, transportanto todos os móveis, embalando as telas que lhe enviarei, foi triste, mas me parecia muito mais triste o fato de que isto me foi dado com tanta fraternidade por você, e que durante tantos anos foi no entanto você sozinho quem me sustentou, e afinal ser obrigado a vir lhe contar toda esta triste história; mas me é difícil exprimir isto como eu o sentia. A bondade que você teve comigo não se perdeu, pois você a teve e isto permanece sendo seu, e mesmo que os resultados materiais fossem nulos, é razão a mais para que isto permaneça sendo seu, mas eu não consigo dizer isto como o sentia."

Van Gogh vendeu apenas um quadro em vida. Apesar da enfemidade, não deixou de trabalhar. Um dos seus últimos quadros é a soturna paisagem Trigal com corvos.

No velório de Van Gogh, seu caixão foi coberto por dezenas de girassois, depositados pela população.

Fim.

Van Gogh - 4

"Vincent foi levado ao hospital e, logo que chegou, seu cérebro recomeçou a divagar.

Do resto, as pessoas que poderiam se interessar por estes tristes acontecimentos já sabem e seria inútil falar, não fosse esse enorme sofrimento de um homem tratato numa casa de loucos que por intervalos mensais, se viu retomando a razão o bastante para compreender o seu estado e pintar com raiva os quadros admiráveis que conhecemos.

A última carta que recebi estava datada de Auvers, perto de Pontoise. Ele me dizia que esperava ficar curado o suficiente para vir me ver na Bretanha, mas que naquele momento não via a perspectiva de uma cura.

"Caro mestre (a única vez em que pronunciou essa palavra), depois de tê-lo conhecido e de o deixar aflito, é mais digno morrer em bom estado de espírito do que em um estado degradante."

Deu um tiro de pistola em sua barriga e foi somente algumas horas depois, deitado no seu leito e fumando seu cachimbo, que ele morreu, guardando toda a sua lucidez de espírito, com amor por sua arte e sem ódio aos outros."

Foto: Quadro de Van Gogh

Continua.

Van Gogh - 3

"Chegando a noite, acabara meu jantar e sentia a necessidade de ir sozinho respirar o ar perfumado dos loureiros em flor. Já atravessara quase inteiramente a praça Vitor Hugo, quando ouvi atrás de mim um pequeno passo bem conhecido, rápido e irregular. Virei-me no exato momento em que Vincent se precipitava sobre mim com uma navalha aberta na mão. Meu olhar nesse momento deve ter sido muito poderoso, pois parou e, baixando a cabeça, retomou correndo o caminho de casa.

Será que fui covarde nesse momento e não deveria tê-lo desarmado e procurado acalmá-lo? Várias vezes interroguei minha consciência e não me censurei em nada

Quem quiser que me jogue a primeira pedra.

Van Gogh voltou para casa e imediatamente cortou sua orelha, exatamente na base da cabeça. Deve ter levado um certo tempo para estancar a força da hemorragia, pois no dia seguinte numerosas toalhas molhadas estavam estendidas nas lages dos dois cômodos de baixo. O sangue sujara os dois cômodos e a escadinha que subia para o nosso quarto.

Quando teve condições de sair, a cabeça envolvida por um gorro basco completamente enfiado, foi direto para uma casa onde, na falta de um compratriota, encontra-se alguém conhecido, e deu ao sentinela sua orelha bem limpa e fechada num envelope. "Tome", disse ele, "como lembrança minha", depois fugiu e voltou para casa, onde se deitou e adormeceu. No entanto, teve o cuidado de fechar as venezianas e de colocar numa mesa perto da janela uma lamparina acesa.

Na cama Vincent jazia, completamente envolto pelos lençois, todo encolhido com os joelhos junto ao corpo: parecia inanimado. Suavemente, bem suavemente, apalpei seu corpo cujo calor era com certeza sinal de vida. Senti como se toda a minha inteligência e a minha energia estivessem voltando.

Quase em voz baixa eu disse ao comissário de polícia:

-Acorde-o com muito cuidado, e se ele perguntar por mim diga-lhe que parti para Paris. Minha presença poderia lhe ser fatal."

Foto: Quadro de Van Gogh

Continua.





Van Gogh - 2

Houve um período em que Van Gogh desejava insistentemente que seu amigo Paul Gauguin fosse também para Arles. A ideia era abrir um ateliê, para trabalharem juntos. E assim aconteceu. Gauguin foi para Arles.

Depois do incidente da automutilação de Van Gogh, após um ataque de loucura, Gauguin escreve em detalhes como tudo ocorreu. Transcrevo parte do relato de Gauguin:

"Já faz muito tempo que tenho vontade de escrever sobre Van Gogh e certamente o farei um belo dia quando estiver mais inspirado: por enquanto vou contar a respeito dele ou, melhor dizendo, a nosso respeito certas coisas capazes de esclarecer algumas inverdades que circularam.

Seguramente, o acaso fez com que durante minha existência vários homens que frequentaram minha casa e discutiram comigo enlouquecessem.

Os dois irmãos Van Gogh estão neste caso e pessoas mal-intencionadas, outras com ingenuidade, atribuíram a mim sua loucura. Certamente algumas pessoas podem ter mais ou menos ascendência sobre seus amigos, mas daí a provocar a loucura há uma boa distância.

Cheguei a Arles num fim de noite e esperei o dia clarear num café.

Já no dia seguinte estávamos trabalhando; ele continuando, e eu, começando. Preciso lhe dizer que jamais tive as facilidades cerebrais que os outros, sem tormento, encontravam na ponta de seus pinceis.

Em cada pais preciso de um período de incubação, preciso toda vez aprender a essência das plantas, das árvores, de toda a natureza, enfim, tão variada e tão caprichosa, jamais querendo se deixar admirar e se entregar.

Fiquei no meu canto algumas semanas antes de aprender claramente o gosto ácido de Arles e de seus arredores. O que não impedia que se trabalhasse com afinco, sobretudo Vincent. Entre dois seres, ele e eu, um todo vulcão e o outro fervendo também, mas de alguma forma preparava-se uma batalha.

Uma das coisas que o deixava possesso era ser forçado a reconhecer em mim uma grande inteligência, em desacordo com minha testa muito pequena, sinal de burrice. No meio disso tudo, uma grande ternura, ou melhor, um altruismo evangélico.

Por quanto tempo permanecemos juntos? Não saberia dizê-lo, me esqueci totalmente disso. Apesar da rapidez com que a catástrofe aconteceu, apesar da febre de trabalho que tomava conta de mim, todo esse tempo me pareceu um século.

Sem que as pessoas desconfiassem, dois homens fizeram ali um trabalho colossal e útil para os dois. Talvez para os outros? Algumas coisas dão frutos.

Foto: quadro de Van Gogh

Continua

terça-feira, 7 de junho de 2011

Van Gogh - 1

Gosto muito de comprar livros que falem de pintores. Suas vidas me fascinam, embora dezenas deles tiveram uma existência curta e conturbada; pouco reconhecimento em vida, loucuras, alcoolismo, etc.; as fotos de seus quadros, ainda que nos livros me encantam enormemente.

Por este motivo sempre que viajo, procuro de antemão verificar quais museus poderei visitar, ver a localização e esquematizar o (s) dia(s), para visitá-los, enfim, tudo. Tive sorte de viajar com pessoas que também curtem o mesmo programa. Felizmente.

Conhecia um pouquinho a obra e a vida de Van Gogh, mas confesso que gostava mais de outros pintores. Quero dizer: gostava dele, mas ele não era o primeiro da lista de minha preferência até treze anos atrás, quando visitei um museu em Amsterdã, com obras deste pintor. Fiquei emocionadíssima! Cada quadro que via, alí, ao vivo, me vinha à memória a fotografia correspondente nos livros. O quadro estava há um metro de distância de mim! As cores vibrantes, o amarelo em profusão. Era dele mesmo, autêntico! Nunca vou esquecer... Havia um quadro tão luminoso, tão maravilhoso, de um campo amarelo muito vivo, que cheguei a imaginar haver alguma luz por traz do quadro, tamanha a luminosidade. E a beleza. Dá vontade de ficar ali, parado, sempre. Em estado de graça.

Quando me dá saudade das obras dele, abro os livros e me emociono novamente. Faz bem recordar boas emoções.

Visitei novamente este museu há um ano atrás. Desta vez foi melhor ainda. Iria rever tudo. Procurar detalhes... Gostaria muito de ser "expert" no assunto, entender a técnica que ele usou, as cores das tintas e os efeitos que causam, mas a emoção vale muito também. Para quem admira com a alma, não é preciso entender, basta sentir. Algumas pessoas talvez nem se deem conta da sensibilidade que poderiam ter se ousassem apreciar uma obra de arte.

Notei que houve algumas modificações no espaço físico deste museu; as instalações me pareceram mais amplas e modernas. Desta vez me recordei mais de umas fotos de croquis e esboços que Van Gogh fazia antes de pintar os quadros, e os enviava a seu irmão Théo, através de cartas. Centenas de cartas, que ele escrevia pedindo ao irmão que lhe enviasse material para que ele pudesse pintar os quadros, cartas de agradecimento pelo atendimento do pedido, cartas angustiadas descrevendo a evolução de sua loucura, de preocupação em economizar os poucos recursos de que dispunha, cartas relatados livros de literatura que lia, cartas descrevendo a paisagem que ele via e iria pintar e as melhores cores a usar em determinado quadro - mesmo quando estava internado, que foi seu período mais produtivo - sua loucura não o impediu que sua mente trabalhasse e "visualizasse" detalhes de como ficaria a pintura, de acordo com a posição do sol; que efeito esta luz natural produziria melhores cores e que tintas misturar, para produzir estes efeitos. Isto só deve acontecer com gênios. Com Certeza.

Mais Van Gogh no próximo "capítulo."

Foto: Van Gogh (internet).










quarta-feira, 1 de junho de 2011

Minas Gerais - Fotos III

E nesse andar, vai-se o tempo,
Tal qual moinho a girar,
Sem descansar um só instante...

Texto: Andra Valladares
Fotos: Internet

Minas Gerais - Fotos II

Fluindo segue os dias
Em incansáveis correntes
Traiçoeiras águas turvas, suaves veus transparentes...

 

Minas Gerais - Fotos I

ÁGUAS DA VIDA
Segue a vida como um rio
Em seu curso imprevisível
Ora em plácido remanso,
Ora em torrente invencível...


Texto: Andra Valladares
Fotos: Nathanael Andrade.