quinta-feira, 9 de abril de 2015

Confidências de Itaguara - Fotos 2

Aqui  aprendi a ler

Loja em que Papai Noel comprava os brinquedos de Natal

Antigamente havia aqui uma vendinha do Antônio Vitalino

Confidências de Itaguara - Fotos 1

Vista parcial de Itaguara - Foto web
Igreja N.Sra das Dores - Itaguara


"Minha rua" - Itaguara

"E minha casa" -  Itaguara

Confidências de Itaguara

Carlos Drummond de Andrade, nosso grande poeta mineiro, um dia escreveu:

Confidência de Itabirano

"Alguns anos vivi em Itabira
Principalmente nasci em Itabira
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro
Noventa por cento de ferro nas calçadas
Oitenta por cento de ferro nas almas"
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Não vivi em Itabira, mas em Itaguara. Parodiando o poeta, principalmente nasci em Itaguara. E nesta pequena cidade, a menos de 100 km distante de Belo Horizonte, vivi minha infância e parte de minha adolescência. Ontem passei por lá e recordei algumas passagens deste período. Vi a "nossa" casa, vendida, quando nos mudamos de lá, o Grupo Escolar Cel Frazão, onde aprendi a ler e escrever... a casa da Professora de Matemática Dona Maria Geralda, ao lado do Grupo, é a mesma. Parece mesmo que nada mudou. A loja do Jairo, onde Papai Noel comprava nossos presentes de Natal.   A venda  do Antônio Vitalino que virou uma pequenina praça. Algumas casas, com alpendre, que lembravam casas de Portugal, viraram pequenos prédios. Culpa dos tempos. A Praça em volta da Matriz Nossa Senhora das Dores... lá eu andava de bicicleta e caia e machucava os joelhos, a casa da tia Cila e do Nico, dos primos:   Zé Heleno,  Toquinho e Neusa. Tia Cila fazia doces de leite para vender e a gente raspava o tacho de cobre. Era o doce mais gostoso do mundo. Com certeza ninguém nunca fez nem fará este doce tão mineiro, melhor que ela, com certeza.  A macarronada de domingo que ela fazia  também é inesquecível.  Com exceção da Neusa, grande amiga de "copo e de cruz", todos se mudaram de lá, para  o céu, deixando uma saudade grande por aqui.
Foi em Itaguara que o grande escritor Guimarães Rosa morou, quando se formou em medicina e lá nasceu sua filha, também escritora, Vilma Guimarães Rosa. Alguns fatos e pessoas desta cidade serviram de inspiração para os personagens de sua grande obra.
Ainda era muito pequena, talvez uns três ou quatro anos de idade, brincava com outras amiguinhas no passeio de casa e a irmã de Guimarães Rosa, Dona Isa, nossa vizinha, sempre nos chamava para nos dar doces e balas e ela sempre dizia que eu era muito educada, pois só pegava os doces menores... Conheci "Seu Flor" (Floduardo), pai do Guimarães, já velhinho, assentado confortavelmente no alpendre de sua casa tomando um solzinho pela manhã, com um cachecol xadrez, envolto ao pescoço.
Nesta época os partos eram feitos em casa, pelo médico Dr. Antônio, esposo de Dona Isa. Era uma figura muito importante na cidade, como o padre, o Padre Geraldo das Semanas Santas, das procissões, da figura do Senhor Morto, que nos causava tanto medo, mas era pecado falar que tinha medo daquele rosto ensanguentado. Lembro-me do cheiro de incenso na Igreja, das velas acessas... da Missa do Galo...
As lembranças são muitas mesmo, dos amigos, dos namoradinhos platônicos, da hora dançante, do Grêmio, no período do Ginásio, do cantar dos carros de bois, dos vizinhos tão solícitos,  do cheiro de biscoito feito no forno de barro, das carnes de poco guardadas nas latas e doce de goiaba guardado nas caixetas de madeira, das brincadeiras de rua, do fogão à lenha, do quintal enorme cheio de frutas, do frio intenso de maio e da coroação, do circo, do picolé de groselha e da maria mole,  enfim, é a nossa vida e nossa história...que não  se apagam e vão tendo mais importância na nossa memória com o passar do tempo.  Ontem revivi algumas destas  lembranças.
Alguns anos vivi em Itaguara
Principalmente nasci em Itaguara.