quarta-feira, 8 de junho de 2011

Van Gogh - 2

Houve um período em que Van Gogh desejava insistentemente que seu amigo Paul Gauguin fosse também para Arles. A ideia era abrir um ateliê, para trabalharem juntos. E assim aconteceu. Gauguin foi para Arles.

Depois do incidente da automutilação de Van Gogh, após um ataque de loucura, Gauguin escreve em detalhes como tudo ocorreu. Transcrevo parte do relato de Gauguin:

"Já faz muito tempo que tenho vontade de escrever sobre Van Gogh e certamente o farei um belo dia quando estiver mais inspirado: por enquanto vou contar a respeito dele ou, melhor dizendo, a nosso respeito certas coisas capazes de esclarecer algumas inverdades que circularam.

Seguramente, o acaso fez com que durante minha existência vários homens que frequentaram minha casa e discutiram comigo enlouquecessem.

Os dois irmãos Van Gogh estão neste caso e pessoas mal-intencionadas, outras com ingenuidade, atribuíram a mim sua loucura. Certamente algumas pessoas podem ter mais ou menos ascendência sobre seus amigos, mas daí a provocar a loucura há uma boa distância.

Cheguei a Arles num fim de noite e esperei o dia clarear num café.

Já no dia seguinte estávamos trabalhando; ele continuando, e eu, começando. Preciso lhe dizer que jamais tive as facilidades cerebrais que os outros, sem tormento, encontravam na ponta de seus pinceis.

Em cada pais preciso de um período de incubação, preciso toda vez aprender a essência das plantas, das árvores, de toda a natureza, enfim, tão variada e tão caprichosa, jamais querendo se deixar admirar e se entregar.

Fiquei no meu canto algumas semanas antes de aprender claramente o gosto ácido de Arles e de seus arredores. O que não impedia que se trabalhasse com afinco, sobretudo Vincent. Entre dois seres, ele e eu, um todo vulcão e o outro fervendo também, mas de alguma forma preparava-se uma batalha.

Uma das coisas que o deixava possesso era ser forçado a reconhecer em mim uma grande inteligência, em desacordo com minha testa muito pequena, sinal de burrice. No meio disso tudo, uma grande ternura, ou melhor, um altruismo evangélico.

Por quanto tempo permanecemos juntos? Não saberia dizê-lo, me esqueci totalmente disso. Apesar da rapidez com que a catástrofe aconteceu, apesar da febre de trabalho que tomava conta de mim, todo esse tempo me pareceu um século.

Sem que as pessoas desconfiassem, dois homens fizeram ali um trabalho colossal e útil para os dois. Talvez para os outros? Algumas coisas dão frutos.

Foto: quadro de Van Gogh

Continua

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