quarta-feira, 8 de junho de 2011

Van Gogh - 5

Van Gogh era um homem amargurado e solitário, mas de uma sensibilidade sem par. Em uma das cartas a seu irmão, escreveu:

"Estou bem estes dias, a não ser um certo fundo de vaga tristeza difícil de definir - mas enfim -, recuperei mais forças fisicamente do que perdi, e estou trabalhando.

Tenho justamente no cavalete um pomar de pessegueiros à beira de um caminho com os Alpines ao fundo.

Parece que saiu um belo artigo sobre Monet no Fígaro; Roulin leu e ficou impressionado, pelo que me dizia...

Felizmente o tempo está bonito e o sol glorioso e as pessoas daqui rapidamente esquecem por um instante as suas preocupações e então irradiam alegria e ilusões."

e prossegue:

"Roulin, mesmo não tendo idade suficiente para ser para mim como um pai, tem para mim contudo severidades silenciosas e ternuras iguais às de um velho querreiro para com um jovem.

Sempre - mas sem nenhuma palavra - um não sei que que parece significar: não sabemos o que nos acontecerá amanhã, mas seja como for, pense em mim. E isto faz bem quando vem de um homem que não é amargo, nem triste, nem perfeito, nem feliz e nem sempre irrepreensivelmente justo. Mas tão bondoso e tão cordato e tão comovido e tão ingênuo. Escute, eu não tenho o direito de me queixar de quem quer que seja em Arles, quando penso em certas pessoas que aqui vi e que jamais poderei esquecer."

Em outra carta Van Gogh escreve:

"..............Provisoriamente desejo ficar internado tanto para a minha própria tranquilidade quanto para a dos outros.

O que me consola um pouco é que estou começando a considear a loucura como uma doença qualquer, e aceito a coisa como ela é, enquanto que, durante as crises, parecia-me que tudo o que eu imaginava era real."

E continua:

"Recomerçar esta vida de pintor que eu tive até hoje, logo isolado, no ateliê, e sem outro recurso para me distrair a não ser ir a um café ou a um restaurante sob a crítica de todos os vizinhos, etc., eu não aguento mais."

Van Gogh se muda e comunica a seu irmão Théo:

".....a pensão deve ser de uns oitenta fancos, e eu farei um pouco de pintura e desenho sem por tanto furor quanto no ano passado. Não se magoe com tudo isto. Estes dias, mudando, transportanto todos os móveis, embalando as telas que lhe enviarei, foi triste, mas me parecia muito mais triste o fato de que isto me foi dado com tanta fraternidade por você, e que durante tantos anos foi no entanto você sozinho quem me sustentou, e afinal ser obrigado a vir lhe contar toda esta triste história; mas me é difícil exprimir isto como eu o sentia. A bondade que você teve comigo não se perdeu, pois você a teve e isto permanece sendo seu, e mesmo que os resultados materiais fossem nulos, é razão a mais para que isto permaneça sendo seu, mas eu não consigo dizer isto como o sentia."

Van Gogh vendeu apenas um quadro em vida. Apesar da enfemidade, não deixou de trabalhar. Um dos seus últimos quadros é a soturna paisagem Trigal com corvos.

No velório de Van Gogh, seu caixão foi coberto por dezenas de girassois, depositados pela população.

Fim.

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